sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Métodos da História de Arte

MÉTODO FORMALISTA

O método formalista estuda a formação da obra de arte partindo da teoria da “pura visualidade” onde as formas têm um conteúdo significativo próprio que não se confunde com os temas religiosos e históricos que de vez em quando comunicam. Para Fiedler a arte não é imitação de formas preexistentes mas livre criação. O princípio e a finalidade da arte é a criação de formas que somente para ela se tornam reais. A arte não parte do pensamento, do produto do espírito para descer à forma e à figura, mas, pelo contrário, parte do imaterial e do abstrato para se elevar à figura e à forma. O formalismo de Fiedler, bem como, de uma maneira geral, os formalismos epistemológicos, não pretende excluir os valores semânticos mas somente evidenciar na forma (e por vezes no conteúdo) o carácter inédito da obra de arte. As formas exprimem um conteúdo próprio.
O campo da arte é, portanto, o da percepção objetiva. No plano da aplicação histórica o seu maior expoente foi Heinrich Wölfflin. (Argan, 1994, pág. 34). Este autor, crítico de arte, tentou cingir os sistemas de sinais representativos a algumas categorias fundamentais: linear e pictórico; superfície, profundidade; forma fechada e forma aberta; multiplicidade e unidade; clareza e não clareza. (Argan, 1994, pág. 35)
Para Alois Riegl “a simbologia que está implícita na morfologia dos adornos reflete uma intuição do espaço e do tempo próprio do mesmo grupo étnico e dependente do tipo de experiência vivida”(Argan, 1994, pág. 35) . Para ele a arte não é determinada por fatores exteriores, mas motivada e dirigida do interior.
Este pensamento permitiu suplantar a classificação dos factos artísticos segundo nações para adotar sistemas mais de classificação mais inclusivos como o da arte “ocidental” e o da “arte oriental”.
É inegável que existem relações mais íntimas e frequentes entre fenómenos da mesma área cultural, não se tratando contudo de constantes invariáveis, mas de desenvolvimentos históricos.
Conclui-se então, com Argan que “cada artista opera na base de uma cultura sedimentada e difusa que a sua busca pessoal contribui para alargar, aprofundar, mudar.”(p.36).

MÉTODO SOCIOLÓGICO
O método sociológico tem a sua origem no pensamento positivista do século XIX, tendo a primeira história social da arte sido escrita por H. Taine. “A obra de arte produz-se no interior de uma sociedade e de uma situação histórica específica”, (Argan, 1994, pág. 36) sendo o artista parte ativa da estrutura social, e sua obra, como qualquer outro produto, é promovida, avaliada, utilizada.
A historiografia marxista, tendo como principais pesquisadores Antal e, sobretudo Hauser, orientou a pesquisa no campo sociológico para a busca da relação entre arte e sociedade na própria estrutura da forma e na organização dos sistemas de representação.
Existem fatores que influenciam a obra de arte: “por que interesses, de que maneiras, com que fins, os expoentes do poder religioso, político e económico encomendam as obras de arte. Em certos períodos a actividade artística surge condicionada pelos centros de poder.” (Argan, 1994, pág. 36).  Porém noutros momentos, “os artistas parecem ser os únicos responsáveis pela produção artística e pela respetiva função no sistema cultural.” (ibidem)
Conclui-se que o método sociológico vê na obra o reflexo da sociedade que a criou.

MÉTODO ICONOLÓGICO
Como vimos, seguindo Argan, o método formalista estuda a desenvolvimento da obra de arte na consciência do artista e o método sociológico a sua formação e presença na realidade social.
Já o método iconológico parte do princípio de que a arte tem impulsos muito profundos enraizados no inconsciente individual e coletivo.
Teve sua génese e desenvolvimento vinculada ao grupo de estudiosos do instituto fundado por Aby Warburg.
A história da arte, sob a perspetiva iconológica, “é a da transmissão, da transmutação das imagens.”(Argan, 1994, p. 38) Existe portanto, na história ocidental, uma cultura das imagens.

As imagens têm no mundo uma existência própria, propagam-se, embora alteradas, em todas as classes sociais, não conhecem limites de “escolha” nem de “estilo” nem de nação” (Argan, 1994, p. 39)
Este método é, por vezes, criticado por não tomar em conta a qualidade das obras e ser incapaz de a assegurar. Este método resumir-se-ia a recolher e ordenar um extenso, mas indiscriminado material icónico.
O método iconológico privilegia sobretudo as mutações e as várias associações de imagens para adquirirem novos significados
Conclui-se que na iconologia o que tem significado próprio é a imagem. Estuda as  infrações ao modelo, o percurso muitas vezes misterioso da imagem na imaginação, os motivos para as suas reaparições por vezes muito distantes no tempo.” (ibidem).

MÉTODO ESTRUTURALISTA

 O método estruturalista foi posto em movimento a partir do estruturalismo linguístico – que se caracteriza pela relação de equivalência entre um significante (algo que enuncia o conceito) e um significado (conceito). Pode-se dizer, que o significado é uma questão de conteúdo, assim como o significante é uma questão de forma.
O objetivo do método é localizar aquilo a que se pode chamar  a unidade mínima constitutiva do ato artístico tal como o lugar, o tempo e a cultura em que foi concebida.
Portanto, “cabe ao estudioso da arte a função específica da descodificação das mensagens por sinais.” (Argan,1994 , p. 40). “Uma vez que os sinais são significantes, ou seja exprimem-se, o problema da arte está incluído no da comunicação.”( ibidem)
Para tanto, utilizam-se do conceito universalizante do signo. Com o estudo do sinal (semiologia) pretende-se substituir a mutabilidade das interpretações pela decifração rigorosa dos signos. Uma vez que os sinais são significantes, o problema da arte estaria incluído no da comunicação, portanto ligado à linguagem.
Todas as obras possuem estruturas a serem decifradas, que levarão ao desvelamento de um significado dado.

“O que na obra de arte se manifesta como estrutura? Estrutura é, antes de mais nada, cada obra de arte tomada em particular. Mas para que uma obra de arte possa ser compreendida como estrutura, tem de ser entendida – e também criada – em relação a determinadas convenções artísticas (fórmulas), estabelecidas pela tradição artística, que estão na consciência dos artistas e dos recetores”. (Jan Mukarovsky)

 Referências:
Argan, G. & Fagiolo, M. (1994). Guia de História da Arte. Lisboa: Editorial Estampa.
Mukarovský, J. (2011) Escritos Sobre Estética e Semiótica da Arte. Lisboa: Editorial Estampa.
Joly, Martine (1994) — Introdução à Análise da Imagem, Lisboa, Ed. 70, 2007 — Digitalizado por SOUZA, R.

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