sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A Escola ensinou a ler e a escutar. Hoje deveria ensinar a ver e a mostrar?



A escola ensinou e continua a ensinar usando a metodologia da exposição oral. A exposição oral constitui uma técnica de comunicação oral que se centra na apresentação de informações sobre um tema, uma questão ou um acontecimento a um auditório presente.

Na consecução de uma exposição oral é importante organizar as informações e destacar os argumentos pertinentes para dar a conhecer ao recetor o tema desenvolvido e convencê-lo da veracidade das afirmações.


A tarefa da escrita obriga a recorrer aos conhecimentos sobre os temas, os destinatários, os tipos de texto e as operações de textualização o que implica o desdobramento desta atividade em três fases: planificação, textualização e revisão.
“Escrever é buscar dentro de nós o que já existe lá dentro”( provérbio árabe).


As cores, as formas e os movimentos ajudam-nos a compreender o mundo. Provocam em nós um constante despertar de imagens, que dão sentido à vida e a tornam mais ou menos agradável.

Para ler o mundo, precisamos de saber decifrar signos, letras, sinais convencionados e imagens. Se ler um texto pode ser, como diz Sebastião da Gama, despir “cada palavra, cada frase, auscultando cada entoação de voz para perceber até ao fundo a beleza ou tamanho do que se lê”, ler uma imagem será também um ato que desnuda o quadro, a pintura, a fotografia, aquilo que o ecrã ou a nossa mente permite “ver”, tendo como preocupação o descobrir, o decifrar ou o interpretar a sua linguagem.

O que as imagens comunicam? A análise da imagem visa compreender as mensagens visuais como produtos comunicacionais.

Na leitura da imagem são mobilizadas não apenas capacidades cognitivas e culturais mas também afetivas e de sensibilidade.

Para  a concretização dessa leitura  é necessário atender à perceção,  à identificação e à interpretação.

A Escola, no tempo atual, continua a usar a expressão oral e a expressão escrita como não poderia deixar de ser, mas já introduziu a leitura de imagens como componente programática de algumas disciplinas. Este comentário foi baseado na leitura de excertos do livro de Português da minha filha que frequenta o 10º ano de escolaridade.

Referências:

Silva, P. e Cardoso, E. (Org.)(2013). Expressões. Português 10º ano. Porto: Porto Editora

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Leitura de Imagens Digitais

 




Grelha de Observação da imagem Guernica 3D
Nome da analista
Fernanda Maria Almeida Fonseca
Data
janeiro 2014
Características da imagem
Título/nome da imagem
Guernica
Tipo de imagem
Um óleo sobre tela
Autor
Pablo Picasso
Data da criação/produção

1937
Formato da imagem
É um painel grande, retangular, pintado a óleo, que mede 350 cm por 782 cm.
Local de publicação
Encontra-se no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madrid
Contextualização
Contextualização histórica
 
Em 1937, durante a Guerra Civil Espanhola, a cidade de Guernica foi bombardeada pela força aérea alemã, que apoiava o líder fascista espanhol Francisco Franco. Morando em Paris o pintor Pablo Picasso, soube dos fatos desumanos e brutais através de jornais - e daí supõe-se, tenha saído a inspiração para a produção da sua famosa obra "Guernica", uma denúncia contra a brutalidade da guerra, um grito contra a violência.
 
Contexto em que foi apresentada
 
 
Uma artista nova-iorquina, Lena Gieseke, que domina as mais modernas técnicas de infografia digital, decidiu propor uma versão 3D da célebre obra, sob a forma de um vídeo.
O resultado é fascinante e permite-nos visualizar detalhes que de outro modo nos passariam provavelmente despercebidos. Esta nova técnica revela-se  um instrumento poderoso para compreender melhor a forma de trabalhar do pintor e até o modo como funcionava a sua imaginação.
 
Descrição
Análise descritiva geral
 
Nesse enorme quadro Picasso utilizou apenas o preto e o branco e alguns tons de cinza, criando detalhes que impressionam o observador.
A sua composição apresenta três planos significativos: à esquerda, o touro e a mulher com a criança morta nos braços; ao centro, o cavalo e a mulher que transporta a lâmpada; à direita, o incêndio e a mulher que grita. O guerreiro morto no solo ocupa a parte inferior da metade direita. A sensação de tragédia, de dilaceramento e de destruição é chocante. Para exprimir o horror de uma destruição insuportável, Picasso parece reduzir seres humanos e animais a gritos. A postura das mãos, os braços estirados, as bocas abertas e os olhos esbugalhados expressam o horror da morte. A presença de traços verticais em quase todas as figuras mostram a mutilação a que estiveram sujeitas. Vêem-se lâmpadas, mas elas não proporcionam qualquer claridade. A decomposição e a fragmentação dos corpos sugere dilaceração e sofrimento. A cor é triste.
 
Analise descritiva pormenorizada /análise simbólica
 Vendo mais pormenorizadamente, com o auxílio da versão da imagem 3D:


No lado esquerdo da tela encontra-se a mãe, que carrega uma criança morta nos braços. Nesta imagem percebe-se claramente a dor que sente uma mãe quando perde um filho.


 



 

Um pouco acima da mãe encontra-se outra figura, o touro que representa brutalidade e fortaleza, pode simbolizar o general Franco. Repare-se que o touro está parado, a abanar a cauda, como se, após um ataque bem-sucedido, recuasse para ver os "estragos feitos no adversário" e se preparasse para o próximo ataque. A presença do touro deve-se também ao fascínio que Picasso sempre teve por touradas, e que aparece frequentemente nas suas obras



Sobre a cabeça do cavalo, está um candeeiro elétrico. Devido ao seu formato de sol, essa figura pode sugerir o "olho de Deus", que vê tudo
 

No centro superior da tela, próximo à cabeça do cavalo, existe um braço, que parece uma nuvem. A mão disforme segura um candeeiro, muito comum nas casas dos camponeses. Esse candeeiro liberta uma luz suave, que poderia simbolizar a luz da consciência.
 
Na parte direita superior e ao centro, aparece uma figura que parece surgir, por debaixo das telhas. Essa figura, de rosto dominador, olha horrorizada para o cavalo ferido. Repare-se que está boquiaberta, como se não acreditasse no que estava a ver.

 




No lado direito superior destaca-se a figura de um homem com os braços levantados, e boca aberta. Esta figura pode simbolizar duas coisas: o homem, está apavorado, e parece tentar deter as bombas que são lançadas sobre a cidade,  ou suplica para que o horror termine.





 

 
 







Na parte central do quadro, vemos um cavalo em agonia que está caído de joelhos, como se estivesse a sentir as dores provocadas por uma enorme ferida aberta.
A cabeça do cavalo está voltada para o touro. Da boca do cavalo parece sair um rugido feroz, de ira e dor. O cavalo pode representar a angústia do povo espanhol.




Apreciação
Mensagem do autor

Picasso quis assumir o caráter de representante artístico universal na condenação deste ato selvagem. Quis “assinar um manifesto” contra a guerra e a violência. Ao conceber a sua obra a preto, branco e cinza, traduziu os intensos sentimentos que o abalaram na destruição de Guernica e a  sua rejeição a tamanha violência. Constituída em estilo cubista, o pintor reproduz nela o povo, os animais e as construções atingidas pelo bombardeio norteadas pela morte. Tem também uma função informativa pois o pintor mostra o horror que foi criado em Guernica.
 
Apreciação emocional e estética
“A experiência estética ativa sentimentos como prazer, alegria, paz, bem como seus opostos. As emoções não possuem formas, são difíceis de definir, dependem diretamente da situação em que o sujeito está inserido”(Funch, 2000).
Olhando para este quadro o sentimento primeiro que nos assiste é de profundo constrangimento, dor e choque perante o horror demonstrado pelas figuras nele representadas, levando-nos a pensar/refletir na destruição que o Homem pode perpetrar.
 
Apreciação visual
Apesar da ausência da cor, é um quadro profundamente expressivo, pois um sentimento de luto percorre esta obra pintada a preto, branco e cinzento como já foi referido. Realça o dramatismo.
Método utilizado
Método Estruturalista
 
Com base na leitura dos recursos disponibilizados o método usado para “ler” esta obra de arte foi o estruturalista tendo-se feito uma análise semiótica da mesma:
A tarefa do analista é precisamente a decifração das significações que a aparente naturalidade das mensagens visuais implica ( Joly, 2007, p. 47).
O objetivo do método é localizar aquilo a que se pode chamar  a unidade mínima constitutiva do ato artístico tal como o lugar, o tempo e a cultura em que foi concebida. “Cabe ao estudioso da arte a função específica da descodificação das mensagens por sinais.” (Argan,1994 , p. 40). “Uma vez que os sinais são significantes, ou seja exprimem-se, o problema da arte está incluído no da comunicação.”( ibidem)
Em jeito de conclusão o símbolo em Guernica é um símbolo do conflito antagónico caracterizado pelo cromatismo contrastado que estabelece sistemas binários de oposição: branco e preto, vida e morte, bem e mal, deus e demónio, vitória e derrota.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


Ref



Referências:

Argan, G. & Fagiolo, M. (1994). Guia de História da Arte. Lisboa: Editorial Estampa.

FUNCH, Bjarne (2000). Tipos de apreciação artística e sua aplicação na educação de museu. In: Educação estética e artística: abordagens transdisciplinares. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Joly, Martine. (1994). Introdução à Análise da Imagem, Lisboa, Ed. 70.